sábado, 26 de março de 2016

Do e-mail de 15/06/2014

Boa noite, amigo!


Sei que és relutante em ver textos extensos. Esse, de Rubem Alves, traz desconstruções à alma. É aquele texto que salva a gente de nós mesmos. (Re) faz caminhos. Se ele, ao menos, te inquietar já terá valido a pena.

Espero que abra no navegador. Mesmo assim me adianto e coloco o texto neste e-mail.

Abraços! Daqui 07 dias encontraremo-nos nos caminhos de palmeiras, daquele que só encontramos no Maranhão.

Saudades....


Lá vai:

A noite chegou, o trabalho acabou, é hora de voltar para casa. Lar, doce lar? Mas a casa está escura, a televisão apagada e tudo é silêncio. Ninguém para abrir a porta, ninguém à espera. Você está só. Vem a tristeza da solidão... O que mais você deseja é não estar em solidão...

Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música... Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa... Mas na festa ele percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão... A noite estava perdida.

Faço-lhe uma sugestão: leia o livro A chama de uma vela, de Bachelard. É um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. A chama de uma vela, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio. Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre encontro comunhão quando o leio. As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade é maior. Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me entender tão bem. Como ele observa, "parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis". A vela solitária de Bachelard iluminou meus cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que proponho a você, como motivo de meditação: "Como se comporta a Sua Solidão?" Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.

Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo: "Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você." Pare. Leia de novo. E pense. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim.

Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga... Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga? Drummond acha que sim: "Por muito tempo achei que a ausência é falta./ E lastimava, ignorante, a falta./ Hoje não a lastimo./ Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim./ E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,/ que rio e danço e invento exclamações alegres,/ porque a ausência, essa ausência assimilada,/ ninguém a rouba mais de mim.!"

Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que "o inferno é o outro." Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia... Mas, voltando a Nietzsche, eis o que ele escreveu sobre a sua solidão:

"Ó solidão! Solidão, meu lar!... Tua voz - ela me fala com ternura e felicidade!

Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas.

Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes.

Ali as palavras e os tempos/poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim a falar."

E o Vinícius? Você se lembra do seu poema O operário em construção? Vivia o operário em meio a muita gente, trabalhando, falando. E enquanto ele trabalhava e falava ele nada via, nada compreendia. Mas aconteceu que, "certo dia, à mesa, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela casa - garrafa, prato, facão - era ele que os fazia, ele, um humilde operário, um operário em construção (...) Ah! Homens de pensamento, não sabereis nunca o quando aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela casa vazia que ele mesmo levantara, um mundo novo nascia de que nem sequer suspeitava. O operário emocionado olhou sua própria mão, sua rude mão de operário, e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu também o operário. (...) E o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia."

Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: "As obras de arte são de uma solidão infinita." É na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta.

E me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond:

"...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília..."

Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha.

O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão...

A sua infelicidade com a solidão: não se deriva ela, em parte, das comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena (fantasiada ) dos outros, em celebrações cheias de risos... Essa comparação é destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira.

Mas essa conversa não acabou: vou falar depois sobre os companheiros que fazem minha solidão feliz.


Rubem Alves.

Do e-mail reencontrado.

Encontrei esse e-mail, por acaso, neste sábado nublado das águas de março. Uma mensagem enviada a uma amiga. Das levezas...que perdi.

Boto fé em você, linda.

Nossos caminhos encontraram-se nesta vida! Super torço por você. Há muitos encantos em tua alma. Desejo muito que tenhas coragem nos caminhos tortuosos desta vida. A cada curva, cada desvio ou atalho a coragem incendei teu coração como a chama do amor, bondade e esperança. Nada nesta vida é previsível. Os passos, como disse Mario Quintana, são os que fazem o caminho. Agora chegou o momento de construir o teu - nem que seja de sangue, lágrimas, ou sorrisos das crianças de rua. Nunca se esqueça que há vida e amor em tudo ao teu redor. Há sol, brisas, pássaros, buzinas, risos. Há - em tudo - Deus! Desejo-lhe fé! Fé em teus passos; fé em Deus. Chegou o tempo de mudanças - daquelas em que Teixeira chama de atravessia: "Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." 

Mudanças ou ciclos. Estou em um destes. Impregnado por medos, receios, furacões. Será o Turning Tables de Adele? Reviravoltas? Também preciso da tal coragem. Daquelas em que chamamos de obstinação. Algumas atreladas às metas que sempre nos mantêm vivos. Muitos acham que é o tal carro do ano; ou alcançarão a felicidade quando passarem um concurso público. A felicidade encontra-se hoje, agora, aqui, ali. Encontra-se em cafés; em abraços quentes em meio ao frio do cerrado. Falei demais, pois vontade veio de não sei onde. Lembrei de poeminha salvo-conduto na época da Academia de Letras. Sempre o usava para justificar a escrita densa. Encanto de Mário de Andrade: "Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi". 

Por fim, deixo as alucinações de Marla de Queiroz para você. Densidade feminina, extremista, não sei. Para mim soam como jazz, ou a poesia sonora de Ella Fitzgerald: "É isso. Pule no tal abismo quando seu coração bater tão forte que só te restará pular. Vc só vai saber se fez a coisa certa, fazendo-a. Só se pode falar do que se conhece e não há como conhecer pela superfície, é preciso tocar verdadeiramente nas coisas e então, se deixar ser tocado por elas. O importante é lembrar que a escolha é sempre nossa e que no momento em que tudo nos foge ao controle é porque chegamos na parte mais importante do aprendizado. Que o medo não tenha tanto poder sobre nós... E que não fiquemos condicionados por experiências anteriores - há sempre uma oportunidade de surpresa, mas teremos que estar abertos a isso. Nada é tão definitivo". Esta fala de Marla foi a mola propulsora à minha vinda a Brasília. 

Assista ao filme de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Parece com você! 

Abraços...

Fabrício Lima.
Riacho.

domingo, 12 de abril de 2015

Dos bilhetes em baixo dos lençóis...não entregues

Escrita por mim em 03 de abril de 2015.



Hoje chove em Ceilândia Norte. 
Dizem que es-ta sexta-feira é santa, 
por isso o feriado. Parece mais
ser sábado de feriado. 


Estou num abrigo para homens em situação de
rua. Há silêncio e abandono por aqui. Sentimentos
que vagam pelas brisas em cômodos e paredes. As
co-res do céu estão cinzentas. 


Do outro lado da grade há sobrados de dois
andares em cores verde, amarelo, rosa, dourado em 
ja-nelas com grades. Há grades em todos os
luga-res nesta cidade. 


Dentro da grade, em que estou, há duas árvores 
de folhas verde musgo com pingos vagarosos a beijar
o solo. O tempo parou por aqui!


Ouço som da TV vindo da cozinha, ou quarto.
Um homem conversa em voz alta, interrompe a
pa-ralisia do tempo. Ele fala sozinho


Este papel tem um infinito branco, igual ao
tempo: infinito enquanto não o usamos. Isto não
deve fazer sentido, suponho. Fomos educados para o
temerosos silêncio, ou para permanecermos amarelos
como flores sobre túmulos. 


Em 2014, neste abril, também estava aqui, 
em Cei-lândia Norte, mas com muitas chaves nas mãos.
Abria e fechava portas, portões, gavetas e grades.


Às vezes o tempo evaporou de um ano para cá.
Permaneço o mesmo. Sou irresponsável por não
per-mitir assumir minhas falhas. Preciso de mais poesia.


Pensei, várias vezes, em te ligar. Imaginei, em 
con-flito comigo, que você estivesse a dormir; ou queria 
desligar-se do meu contato.


Lembro-me de nossas conversas sobre amor, de
que só os corajosos o alcançam. Risos! Estou em
dú-vida sobre isso. Li, certa vez, que só os imperfeitos
alcançam o amor, posto que ele nos leva à perfeição.
E transforma qualquer um em nobre poeta. 


As almas tornam-se mais elevadas e sublimes
quando amam. As flores, o vento e os ciclos do
Universo entram em sincronia conosco quando
amamos.


Queria entender quando ele surge. Se surge, como
saber se é real? Se para ...  para sempre? A melhor
resposta seria ver os sinais. E queria - tanto - vê-los.






.



Das                                         cartas                            que nunca
chegam



Há fotografias na parede. Uma boa música:

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Do caderninho...guardado sob medos

Assim era:


Balsas - MA 01/07/11

<-> Eu não tenho um diário. E quando a gente tem medo de alguém pegar, ler e dizer besteiras...então é bom um blog, né? Hoje eu resolvi parar a rotina. Parar para sentir. Foi isso! Eu parei e coloquei os óculos para ver o mesmo céu de sempre, que eu sempre achava engraçado, porque tinha estrelas fracas.

Resolvi fazer um café em exatas 21h - loucura? Risos! O silêncio de mim me fazia feliz. Eu me olhava e me (des) avessava de dentro pra fora e inversamente me sujava de tinta. Eu lembrei que, quando criança, adorava ficar olhando o céu deitado no capô do carro vermelho de história de pai. Eu olhava e achava os cristais do escuro, o máximo.

Corri e disse pra mãe que eu queria ser astronauta. Ela ria! Eu ria! Senti-me com futuro resolvido: eu já sabia o que queria e a vida parecia curta e leve! Risos!! Depois de muitas derrubadas acredito que a vida é leve e que podemos tocar em estrelas desconhecidas e infinitas. A gente foi feito pra ser feliz... e com amor.

Estou experimentando meu café sem leite feito à noite em horário estranho... e num é que é bom... e diferente agir na curva escolhida!!! É bom!

sábado, 21 de março de 2015

Da viagem em data sem fim

"Eu vejo um vento musical
sob as flores secas e
a terra vermelha. São
orquestras de origem de
saudades. Tortuoso ou não
há vidas planas, curvilíneas
e de diversas formas em
mim."


"Eles são magros                                                      
Vacas magras
Terreno acidentado
Mato ciliado sem
Cor. Sol desesperador
com telhado de fogo
As palmeiras e a
Esperança em ser feliz
Dignam-os a serem
Humanos."


"Muitos cajus, morros e
plantas secas na estrada
Muitas nuvens com tempo
de meio dia no horizonte
Pingos de laranja abraçam
a vege-ta-ção
Parece coisa meio nublada
Não que pareça melancólico
mas parece chuva."

Esse trem de reescrever minhas anotações do caderninho aqui no blog às vezes dói. Eu tenho medo, sabe? Não sei por quê. Lidar com saudade, com o passado não é algo fácil. Há tantas sombras sob as calçadas da mente, que tocá-las significaria mudar caminhos; pular muros, ou (re)encostar-se em suas sem saídas. Um beijo ao meu coração, que ainda resiste a todo esse Universo. 


Dos escritos pontilhados

"Novembro passou em um pulo." (2014).



"Aquele sol com horário de entardecer adia a pelo do moço cacheado 
Havia dourados em lábios e mãos 
Respirava feliz, de olhos fechados
Como se a vida... ah essa vida
Infinita de raios solares para ser
Usados todos os dias."
"A sobra mira o papel em
Branco. E agora? A sombra
tem tinta, mas sem matéria.
O branco risca-se de cores:
pintados entre ossos, carnes
E pele. O risco de papel
Branco recebe sangue."


"O divertido da poesia
vem da graça de
brincar de palavras."



"O motor tem
barulho de vento
Rompe o silêncio
da sala exausta
Cheia de cadeiras
azuis."
"Nada mais triste que
ver cadeiras vazias
Mesmo aquelas postas à
venda."


"Por que o silêncio
Esbarra-se nos vidros?
Toma conta do lugar."


Os escritos acima são fragmentos soltos em dias de novembro, 2014. 

quarta-feira, 11 de março de 2015

Das cartas que não chegam

Tenho mania de escrever cartas. Acho lindo, e tão intenso. Nesta sociedade tecnológica as pessoas não escrevem, tampouco fazem chamadas telefônicas. A gente fica cada vez mais distante! Escrevi, em 2014, uma carta para uma pessoa que amava muito. Escrevi e guardei...comigo! Vou postá-la aqui abaixo:





Brasília - DF. República  do Brasil. 
Riacho Fundo I. Maranhão do Sul.


Querida -.
Águas Claras - DF.



Que manhã nefasta. A neblina cobre a cidade. Na rua há frio, silêncio e abandono. Parece que este domingo ficou embaixo da mesa. 

Nestas calçadas a sensação térmica é de 15º C. Bem diferente do Maranhão. A simpatia também é algo peculiar daqui. Uma senhora aproximou-se de mim, na parada de ônibus, silenciosamente. Faltou forças para me dizer bom dia. 

Compartilhávamos do bom frio e da falta de visibilidade: a neblina cobria prédios; desenhava nova paisagem. Parecia aqueles filmes americanos de terror - infelizmente não encontrei a mocinha. 

Boa parte de hoje pensei sobre nossos desencontros de sábado à tarde: o convite imaginário ao parque; os abraços à tarde; o celular no carro; sono...sono.

Sabe, não me perguntei quem errou ou acertou neste desencontro. Mas avaliei como as situações foram vistas e resolvidas. Em você vi um pulmão crescendo rapidamente. Por vezes sufocaria o coração. Há, ainda, um desdenho de presença descomunal. Daqueles que cara e coroa não consegue parar. 

Céu nublado traz peso ao coração, não sei porquê. Vem vento frio soprando ausências, dores e sonhos. Uma grande bruma altera minha alma. Há sucessivo ataques de abandono. 

Juntando tantas sensações e confusões permaneço lento. A cada movimento vidros refletem medo, moralismo e orgulhos. Que tipo de visão irreal é essa? Senti-me alheio à paixão e à bondade. Novamente uma bruma cinza cercou minha visão. Que tipo de espírito procuro?

O que há em você para ferir-me? O tempo ao teu lado passa embalado de felicidade. Recebi encantos de aniversário. Mas por que a flecha? Por que o silêncio mórbido no sábado?

Linda, queria que os desencontros de ontem encontrassem um nós. Poderia incendiá-los, amarrá-los, devolvê-los ao destino. Ou ao Universo perturbador que os criou. Ainda não consigo. 

Perto de você meus sonhos, o meu amor e a minha vida melhoram. Acreditava que você encontrara a melhor parte de mim. Às vezes você consegue tocar na parte mau e doente, para me curar. Ontem não foi assim. 

Em nenhum momento você quis se aproximar de respostas ao desencontro. Como uma rocha incolor oposta ao sol você quis se afastar do céu; optou por cobrir-se de terra e por vezes atrapalhar o caminho.

Ainda me pergunto quem é esta que às vezes se veste ao meu lado? O que há em você de desperto? 

Sei que pareço lento, esquecido, meio torto e atrapalhado. Mas não sei como você me vê; e o que faço para algo vale a pena. Quanto a você tento fazer desconstruções. 

Sabe...tenho receio de encontrar uma história de amor incrivelmente incrível (sic). Às vezes a gente nem consegue perceber que já encontrou. Então nos afastamos, porque parece ser incrível procurar por algo maior que a gente. Você se sente madura quer curtir a solidão... Não! Não é assim. 

É preciso vencer conformismos/comodismos; parar de negociar os papéis que sempre negocio; fugir do "quase": quase deu certo. Por mim o importante na vida é com quem caminharemos, não para aonde vamos. A gente escolhe com quem querermos ser felizes. 

Não quero que tenha relações por conveniência. Ou por papéis que você sempre quis executar. Quero que veja possibilidades. Que consiga dialogar com felicidade. No próximo (...) encontre amor e carinho. Que você incendei!!!

Às vezes é melhor ouvir o que a gente sente. Sério! Sei que é difícil. Pode ser que se descubra o que queremos de verdade. E teríamos que lidar com isso. Penso, por vezes, que há em você um fingimento de forças e invulnerabilidades... Isto surgiu sábado.

Por fim, sábado senti que você...ou eu poderia ir...embora... Ou sei lá... te procurasse um dia por necessidade, por independência. 

Não adianta procurar no cinema... na esquina... no app... a gente sabe que não é igual. É raro...é incrivelmente raro perceber que alguém é tão importante para nós.

Às vezes acho que a gente tem é que dizer: não vá, eu quero você; "você é parte de mim". Talvez eu me ferre, me lasque...quero que você venha, mesmo que eu morra de medo...



Tá Combinado - Caetano Veloso. 

[...] toda razão, toda palavra
Vale nada quando chega o amor...






Maranhão do Sul. 
Domingo aos... em 2014.
Tarde. Sol. Frio. 

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Volta!

Que doideira, hein? Tem um tempão que não volto aqui. Deu até saudades...de (re) escrever sobre a vida; sobre mim. Foram tantas reviravoltas, que o medo paralisou a escrita. Esqueçamos isso! Brisas de recomeços, por favor!

Hoje reli o blog Tremdedoido, Na Ponta da Língua. Há, realmente, almas escritoras. E deu saudades do autor do blog. Pessoa incrível, que mais uma vez as pedras em minhas mãos o afastou. Há desconexos nessa postagem. Não há relação de coisas específicas aqui! ok?

Estou com desejo, daqueles de acelerar o coração. Vi o livro Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll na Casa Park ontem. O cartão de crédito fechou o limite. Sempre tive vontade de ler Alice. Sinto-me alheio por não ler Lewis, ou ao menos sem infância. Falar em infância o domingo de sol foi permeado por documentário sublime: Tarja Branca. É uma revolução sobre o brincar. Mexe muito com os conceitos de cultura, consumo, cidade, gente, expressão. É no brincar - por meio do ser brincante - que a criança constrói o ser gente; nutre as expressões à formação do sujeito. Isto ajudaria muito à diminuição de adultos tristes, violentos. Muitas desconstruções. Lembrar da infância sempre é bom!!! A minha nem se fala: livros....poesias...chuvas...solidão...

Parece que pouca coisa mudou da minha infância à fase adulta. Talvez agora seja um otimista falante. Risos! Tinha medo até de dizer oi. Explicação vem do isolamento do quarto. Meu quarto era mundo vasto, cheio de aventuras conduzidas pelos livros. Odiava quando atrapalhavam minha leitura. Ninguém gosta de perder o fio da meada, não é mesmo? Hoje leio menos. Ao menos consigo escrever mais.

As linhas de hoje são estreantes, apenas para abrir os trabalhos de 2014. Não sei quando voltarei a escrever - espero que seja em breve!!! Ah ganhei, no domingo à noite, um livro lindo de Jack Kerouac: Tristessa. A história é linda, alucinante - às vezes alucinógena. Presentes literários são sempre bons. A gente fica curioso para ler....comentar...saber a relação da obra, com a nossa vida. Ai ai ai - o "ai ai" lembra o Tremdedoido, blog parado no Na Ponta da Língua.

O documento foi de poesia mesmo: assisti três filmes, ganhei um livro; consumi TV; e achei CD "Tudo Tanto" de Tulipa Ruiz. O melhor achado do ano foi ter reencontrado Tulipa. Tento compreender por que ela mexe tanto comigo, principalmente as tensões da canção "Víbora". Depois dela vem o jazz, sempre me deixa calmo.

Bem... voltarei aos meus biscoitos de chocolate com café com leite! Essa segunda-feira parece mais sábado, ou sei lá, uma realidade perdida no tempo.