sábado, 21 de março de 2015

Da viagem em data sem fim

"Eu vejo um vento musical
sob as flores secas e
a terra vermelha. São
orquestras de origem de
saudades. Tortuoso ou não
há vidas planas, curvilíneas
e de diversas formas em
mim."


"Eles são magros                                                      
Vacas magras
Terreno acidentado
Mato ciliado sem
Cor. Sol desesperador
com telhado de fogo
As palmeiras e a
Esperança em ser feliz
Dignam-os a serem
Humanos."


"Muitos cajus, morros e
plantas secas na estrada
Muitas nuvens com tempo
de meio dia no horizonte
Pingos de laranja abraçam
a vege-ta-ção
Parece coisa meio nublada
Não que pareça melancólico
mas parece chuva."

Esse trem de reescrever minhas anotações do caderninho aqui no blog às vezes dói. Eu tenho medo, sabe? Não sei por quê. Lidar com saudade, com o passado não é algo fácil. Há tantas sombras sob as calçadas da mente, que tocá-las significaria mudar caminhos; pular muros, ou (re)encostar-se em suas sem saídas. Um beijo ao meu coração, que ainda resiste a todo esse Universo. 


Dos escritos pontilhados

"Novembro passou em um pulo." (2014).



"Aquele sol com horário de entardecer adia a pelo do moço cacheado 
Havia dourados em lábios e mãos 
Respirava feliz, de olhos fechados
Como se a vida... ah essa vida
Infinita de raios solares para ser
Usados todos os dias."
"A sobra mira o papel em
Branco. E agora? A sombra
tem tinta, mas sem matéria.
O branco risca-se de cores:
pintados entre ossos, carnes
E pele. O risco de papel
Branco recebe sangue."


"O divertido da poesia
vem da graça de
brincar de palavras."



"O motor tem
barulho de vento
Rompe o silêncio
da sala exausta
Cheia de cadeiras
azuis."
"Nada mais triste que
ver cadeiras vazias
Mesmo aquelas postas à
venda."


"Por que o silêncio
Esbarra-se nos vidros?
Toma conta do lugar."


Os escritos acima são fragmentos soltos em dias de novembro, 2014. 

quarta-feira, 11 de março de 2015

Das cartas que não chegam

Tenho mania de escrever cartas. Acho lindo, e tão intenso. Nesta sociedade tecnológica as pessoas não escrevem, tampouco fazem chamadas telefônicas. A gente fica cada vez mais distante! Escrevi, em 2014, uma carta para uma pessoa que amava muito. Escrevi e guardei...comigo! Vou postá-la aqui abaixo:





Brasília - DF. República  do Brasil. 
Riacho Fundo I. Maranhão do Sul.


Querida -.
Águas Claras - DF.



Que manhã nefasta. A neblina cobre a cidade. Na rua há frio, silêncio e abandono. Parece que este domingo ficou embaixo da mesa. 

Nestas calçadas a sensação térmica é de 15º C. Bem diferente do Maranhão. A simpatia também é algo peculiar daqui. Uma senhora aproximou-se de mim, na parada de ônibus, silenciosamente. Faltou forças para me dizer bom dia. 

Compartilhávamos do bom frio e da falta de visibilidade: a neblina cobria prédios; desenhava nova paisagem. Parecia aqueles filmes americanos de terror - infelizmente não encontrei a mocinha. 

Boa parte de hoje pensei sobre nossos desencontros de sábado à tarde: o convite imaginário ao parque; os abraços à tarde; o celular no carro; sono...sono.

Sabe, não me perguntei quem errou ou acertou neste desencontro. Mas avaliei como as situações foram vistas e resolvidas. Em você vi um pulmão crescendo rapidamente. Por vezes sufocaria o coração. Há, ainda, um desdenho de presença descomunal. Daqueles que cara e coroa não consegue parar. 

Céu nublado traz peso ao coração, não sei porquê. Vem vento frio soprando ausências, dores e sonhos. Uma grande bruma altera minha alma. Há sucessivo ataques de abandono. 

Juntando tantas sensações e confusões permaneço lento. A cada movimento vidros refletem medo, moralismo e orgulhos. Que tipo de visão irreal é essa? Senti-me alheio à paixão e à bondade. Novamente uma bruma cinza cercou minha visão. Que tipo de espírito procuro?

O que há em você para ferir-me? O tempo ao teu lado passa embalado de felicidade. Recebi encantos de aniversário. Mas por que a flecha? Por que o silêncio mórbido no sábado?

Linda, queria que os desencontros de ontem encontrassem um nós. Poderia incendiá-los, amarrá-los, devolvê-los ao destino. Ou ao Universo perturbador que os criou. Ainda não consigo. 

Perto de você meus sonhos, o meu amor e a minha vida melhoram. Acreditava que você encontrara a melhor parte de mim. Às vezes você consegue tocar na parte mau e doente, para me curar. Ontem não foi assim. 

Em nenhum momento você quis se aproximar de respostas ao desencontro. Como uma rocha incolor oposta ao sol você quis se afastar do céu; optou por cobrir-se de terra e por vezes atrapalhar o caminho.

Ainda me pergunto quem é esta que às vezes se veste ao meu lado? O que há em você de desperto? 

Sei que pareço lento, esquecido, meio torto e atrapalhado. Mas não sei como você me vê; e o que faço para algo vale a pena. Quanto a você tento fazer desconstruções. 

Sabe...tenho receio de encontrar uma história de amor incrivelmente incrível (sic). Às vezes a gente nem consegue perceber que já encontrou. Então nos afastamos, porque parece ser incrível procurar por algo maior que a gente. Você se sente madura quer curtir a solidão... Não! Não é assim. 

É preciso vencer conformismos/comodismos; parar de negociar os papéis que sempre negocio; fugir do "quase": quase deu certo. Por mim o importante na vida é com quem caminharemos, não para aonde vamos. A gente escolhe com quem querermos ser felizes. 

Não quero que tenha relações por conveniência. Ou por papéis que você sempre quis executar. Quero que veja possibilidades. Que consiga dialogar com felicidade. No próximo (...) encontre amor e carinho. Que você incendei!!!

Às vezes é melhor ouvir o que a gente sente. Sério! Sei que é difícil. Pode ser que se descubra o que queremos de verdade. E teríamos que lidar com isso. Penso, por vezes, que há em você um fingimento de forças e invulnerabilidades... Isto surgiu sábado.

Por fim, sábado senti que você...ou eu poderia ir...embora... Ou sei lá... te procurasse um dia por necessidade, por independência. 

Não adianta procurar no cinema... na esquina... no app... a gente sabe que não é igual. É raro...é incrivelmente raro perceber que alguém é tão importante para nós.

Às vezes acho que a gente tem é que dizer: não vá, eu quero você; "você é parte de mim". Talvez eu me ferre, me lasque...quero que você venha, mesmo que eu morra de medo...



Tá Combinado - Caetano Veloso. 

[...] toda razão, toda palavra
Vale nada quando chega o amor...






Maranhão do Sul. 
Domingo aos... em 2014.
Tarde. Sol. Frio.